Movimento negro e associações reagem às declarações do deputado federal Jair Bolsonaro

Daniella Jinkings
Da Agência Brasil 
Em Brasília



Representantes do movimento negro e associações que defendem a igualdade racial reagiram às declarações do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Na última segunda-feira (28), o deputado disse em um programa de televisão que seus filhos não correm o risco de namorar uma mulher negra ou virarem gays, porque "foram muito bem educados".

Ao ser indagado pela cantora Preta Gil sobre sua reação caso um de seus filhos se apaixonasse por uma negra, Bolsonaro respondeu: “Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja, eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu”.

O parlamentar também se manifestou contra as cotas raciais, adotadas em várias universidades brasileiras. “Todos nós somos iguais perante a lei. Eu não entraria em um avião pilotado por um cotista, nem aceitaria ser operado por um médico cotista”.



Para a cantora brasilense e atuante do movimento negro, Elen Oléria, é preciso tomar medidas para evitar que fatos como esse se repitam, sem dar uma dimensão exagerada ao fato. “Essa não será a última vez que manifestações assim acontecem. Infelizmente essa tradição [racista] ainda mora em muitos lares brasileiros.”

“Estou enojado [com essas declarações]”, afirmou o membro do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Átila Roque. Segundo ele, Bolsonaro tornou-se figura caricata “pela quantidade de bobagens que fala”, no entanto, isso não é desculpa para deixá-lo sem uma punição exemplar.

Uma representação assinada por 20 deputados do PSOL, PCdoB e PDT foi protocolada há pouco, na Mesa Diretora da Câmara, pedindo que a Corregedoria da Casa investigue o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) pelos comentários feitos no programa de televisão. Na mesma representação, os deputados pedem também que ele seja destituído pelo seu partido, o PP, da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.

O Inesc, que promove um seminário sobre racismo hoje e amanhã na Universidade de Brasília, foi uma das primeiras entidades a assinar a representação. “Existe no Brasil uma série de dispositivos legais que claramente tipificam o racismo como crime. Vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para que ele seja punido de forma exemplar”, afirmou Roque.

De acordo com a socióloga e coordenadora da Organização Não Governamental Actionaid, Rosana Heringer, a lei de racismo no Brasil é de difícil aplicação. “Pouca gente foi condenada no Brasil até hoje. Mesmo não havendo uma punição na Justiça, acho que ele merece uma punição do ponto de vista simbólico e cultural, para pensar duas vezes antes de falar isso de novo.”

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