A CORAGEM DE DIZER "NÃO"


Como Rosa Parks levou às multidões a luta pela igualdade racial





Susan Tusa/The New York Times

Em 1º de dezembro de 1955, a costureira negra Rosa Parks chegou ao seu limite. Mais num desabafo espontâneo do que por cálculo, ela se recusou a ceder seu assento num ônibus da cidade de Montgomery, no Alabama, a um homem branco. Rosa - que morreu no último dia 24[1], aos 92 anos de idade - foi presa, fichada, pagou multa de 14 dólares e mudou a história americana. Seu protesto solitário pôs fogo no sul dos Estados Unidos, onde a segregação racial era regra. Com ele, Rosa tirou a luta pelos direitos civis da esfera das vanguardas políticas e intelectuais, levando às multidões. Por causa dela, um pastor de 26 anos, Martin Luther King Jr., organizou os negros sulistas num boicote ao transporte público que durou 381 dias e fez de King o grande líder do movimento pela igualdade dos negros - este, por sua vez, a mais profunda convulsão social dos Estados Unidos no período, culminado, em 1964, com a lei que baniu a discriminação racial em todos os estabelecimentos públicos. Em 1957, Rosa e sua família trocaram Montgomery por Detroit, em razão das ameaças de morte que recebiam, da dificuldade em conseguir emprego e também por causa de seus desentendimentos com King e outros líderes, secretamente ciumentos da forma como a costureira arrancara uma bandeira de suas mãos ao protagonizar um dos gestos mais corajosos e politicamente eficientes da história contemporânea. Rosa recebeu, em 1996, a Medalha Presidencial pela Liberdade e, em 1999, a Medalha de Ouro do Congresso - a mais alta honraria civil americana. Mas seus últimos anos foram melancólicos. Sem dinheiro para o aluguel, ela contava apenas com a ajuda de uma igreja local para sobreviver.



[1] 24 de novembro de 2005.

A coragem de dizer "não". Revista Veja, Ano 38 nº 44, novembro/2005, p.90

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